Em mais um ano consecutivo, o Brasil teve mau desempenho no relatório do Índice de Percepção de Corrupção da ONG Transparência Internacional. O país marcou índice de 3,7 em uma escala que vai de zero (países vistos como muito corruptos) a dez (considerados bem pouco corruptos) e ficou em 75º em um ranking de 180 países avaliados. No ano passado, o país teve um índice de 3,5 de percepção de corrupção.
O estudo da entidade reúne resultados de pesquisas realizadas com especialistas e executivos de cada país, que avaliam como percebem a presença de corrupção nas instituições públicas do país onde vivem. A partir destas avaliações, são medidos os índices de cada nação e montado um ranking anual comparativo. As notas mais altas ficam com os países onde a corrupção parece ser menos presente. Em 2009, entre os países da América Latina, o Brasil aparece abaixo de Chile, Uruguai, República Dominicana, Costa Rica e Cuba no ranking. Em todo o mundo, países como Itália, Brunei, Coreia do Sul, Turquia, África do Sul, Hungria, Geórgia e Gana tiveram índices melhores do que o Brasil
Além do Brasil, outras três economias fortes da América Latina também marcaram índices abaixo de cinco: Peru, Colômbia e México. Em comum, os quatro países foram abalados por escândalos recentes envolvendo impunidade, corrupção política e propinas. Outros países latino-americanos sequer atingiram uma nota 3 no índice da Transparência Internacional: Bolívia, Honduras, Nicarágua, Equador, Paraguai e Venezuela. Enquanto isso, apenas dois países da região ficaram entre os 30 considerados menos corruptos no mundo: Chile e Uruguai. Segundo a ONG, a América Latina sofre atualmente com instituições fracas, práticas fracas de governança, excesso de influência e interesses privados sobre o poder público e um ambiente cada vez mais restritivo à imprensa em parte dos países.
O Haiti teve o pior índice em toda a América, de 1,8, e ficou no 168º lugar no ranking mundial de percepção de corrupção. Foi seguido da Venezuela, com índice de 1,9 (162º lugar no ranking geral). No continente todo, o melhor índice foi o do Canadá (8,7), seguido pelos Estados Unidos (7,5).
Centralização estimula corrupção no Brasil, diz especialista
Em relação ao Brasil, a excessiva centralização no poder federal é vista como o fator que permite a corrupção, na avaliação de Roberto Romano, professor de Filosofia e Ética na Universidade de Campinas (Unicamp). "O nosso Estado é excessivamente centralizado no poder federal e essa excessiva centralização estimula a corrupção". Se para trazer recursos para o seu município, você precisa de intermediários, e muitas vezes os nossos senadores e deputados federais cumprem esse papel de intermediários na boca do caixa do ministério da Fazenda ou do Planejamento, já diz que a verba não é distribuida automaticamente. Além disso, essa distribuição de recursos é feita segundo o padrão de obediência ao governante da hora (...). Tudo isso faz com que você tenha gargalos nesse sistema de irrigação de verbas, e para destravar esses gargalos, só a corrupção funciona", diz Romano.
Corrupção no mundo
A América Latina não é a única região onde resultados fracos foram apontados pelo relatório da Transparência. A maior parte dos 180 países avaliados teve índice inferior a cinco. Os locais percebidos como menos corruptos foram Nova Zelândia (9,4), Dinamarca (9,3), Cingapura (9,2), Suécia (9,2) e Suíça (9,0). No extremo oposto do ranking estão Iraque (1,5), Sudão (1,5), Mianmar (1,4), Afeganistão (1,3) e Somália (1,1). Os dados mostram que países que enfrentam conflitos de longa duração são também os mais prejudicados pela corrupção, aponta o relatório. Melhoras sensíveis no nível de corrupção nos dois últimos anos foram identificadas em Bangladesh, Belarus, Guatemala, Lituânia, Moldávia, Montenegro, Polônia, Síria e Tonga. Pioras no mesmo período foram encontradas no Bahrein, Grécia, Irã, Malásia, Malta e Eslováquia. "Só não houve corrupção no Paraíso. Eu não vejo nenhum país no mundo que não possa ter corrupção. A estrutura da sociedade acolhe tanto pessoas de boa índole quanto de má índole. Você não pode definir as leis, as regras, o funcionamento de uma sociedade tendo em vista que todos serão bons ou todos serão maus", diz Romano.