FORMAÇÃO - CONCÍLIO VATICANO II

 

PARTE I – O CONCÍLIO VATICANO II

Os Concílios na Vida da Igreja

O que é um Concílio?

  • O termo “CONCÍLIO”, etimologicamente, relaciona-se com , .conciliarconciliação
  • Refere-se, portanto, a uma reunião para dirimir controvérsias.
  • Na tradição da Igreja o concílio é o modo solene pelo qual o COLÉGIO EPISCOPAL – os bispos do mundo inteiro em união com o bispo de Roma, o Papa, cabeça do Colégio – exerce o seu poder sobre toda a Igreja (CDC,Cân. 337).

Quem participa do concílio?

  • Ao longo da história houve mudanças quanto aos participantes:
  • Os BISPOS sempre foram os principais membros;
  • Presbíteros, diáconos, monges e demais religiosos também foram admitidos muitas vezes;
  • Teólogos e canonistas foram quase sempre convocados;
  • Em alguns concílios também estavam presentes leigos (imperadores, reis, príncipes, embaixadores, etc)
  • O atual Código de Direito Canônico (1983) menciona os seguintes membros: TODOS OS BISPOS(patriarcas, arcebispos, bispos diocesanos, bispos auxiliares, bispos titulares, bispos eméritos) e TODOS AQUELES CONVOCADOS PELO PAPA, mesmo que não sejam bispos.

Para que serve um concílio?

  • O Concílio deve tratar das QUESTÕES MAIS GRAVES E URGENTES da Igreja Católica, principalmente relacionadas a:
    • – aquilo que se deve crer e ensinar aos fiéis;
    • Moral – como os cristãos católicos devem viver;
    • Disciplina – normas para clérigos e fiéis.
  • Pode ter finalidade:
    • Dogmática – definir dogmas de Fé;
    • Disciplinar – determinar normas práticas para os fiéis;
    • De reforma – modificar a disciplina da Igreja;
    • De união – receber os hereges/apóstatas/cismáticos na Fé;
    • Pastoral – determinar as ações da Igreja no cuidado pastoral dos fiéis.
  • Um Concílio pode emanar diversos tipos de documentos: profissões de fé, cânones, capítulos, decretos, constituições, declarações.

 Os Concílios na História da Igreja

 A história dos concílios

  • Antes de aprofundar o Concílio Vaticano II (21º ecumênico) é preciso conhecer um pouco da história dos Concílios.
  • Podemos agrupar os concílios em algumas categorias:
    • Concílios “antigos”:
      • 7 primeiros Concílios Ecumênicos: aceitos pelo Oriente e pelo Ocidente;
      • 1 Concílio aceito só pelo Ocidente;
    • Concílios “papais”: 7
    • Concílios tardo-medievais e modernos: 4
    • Concílios contemporâneos: 2

 

Os Concílios “Antigos”

Os primeiros concílios ecumênicos

  • Reuniram-se todos no Oriente para resolver questões dogmáticas.
  • São eles:
    • Concílio de Nicéia I (325)
    • Concílio de Constantinopla I (381)
    • Concílio de Éfeso (431)
    • Concílio de Calcedônia (451)
    • Concílio de Constantinopla II (553)
    • Concílio de Constantinopla III (680-681)
    • Concílio de Nicéia II (787)
    • Concílio de Constantinopla IV (869-870)

 UM “CONCÍLIO” QUE NÃO É CONCÍLIO

  • Costumamos dizer que o primeiro concílio da história da Igreja é o CONCÍLIO DE JERUSALÉM, que teria ocorrido por volta de 50 DC.
  • O episódio é apresentado em Atos dos Apóstolos (capítulo 15) e na carta aos Gálatas (capítulo 2), em duas versões diferentes, com o debate entre Pedro e Tiago, de um lado, e Paulo, do outro, sobre a conversão dos pagãos e a exigência ou não da circuncisão (prática judaica)
  • O evento foi uma reunião dos apóstolos, não propriamente um “concílio”.

 1º - CONCÍLIO DE NICÉIA (325)

  • Convocado pelo imperador Constantino;
  • Concílio dos 318 Padres;
  • Era papa Silvestre I;
  • Tratou da heresia de Ário (o Verbo não é Deus, mas uma criatura) e questões disciplinares.
  • Promulgaram cânones, uma profissão de fé e uma carta aos egípcios

 2º - CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA (381)

  • Sínodo dos 150 Padres;
  • Era papa Dâmaso I;
  • Tratou da heresia de Macedônio e os pneumatômacos (o Espírito Santo não é Deus)
  • Promulgou uma profissão de Fé, completando aquela de Nicéia (é o nosso Credo Niceno - Constantinopolitano).

 3º - CONCÍLIO DE ÉFESO (431)

  • Era Papa Celestino I;
  • Tratou das heresias de Nestório (em Jesus haveriam três pessoas: a humana, a divina e a união das duas; Maria seria apenas mãe da humanidade de Jesus) e de Pelágio
  • Promulgou diversas cartas e decretos, condenou Nestório e definiu que em Jesus há uma só Pessoa, que ele é ao mesmo tempo humano e divino e, por isso, Maria é Mãe de Deus (theotókos).

 4º - CONCÍLIO DE calcedônia (451)

  • Era Papa Leão Magno;
  • Tratou das heresias de Êutiques (em Cristo haviam se unido as duas naturezas para formar uma só)
  • Promulgou cânones e uma definição dogmática: em Cristo, que é uma só pessoa, há duas naturezas, não confundidas, nem mudadas, nem alteradas de nenhum modo.

 5º - CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA II (553)

  • Era Papa Vigílio;
  • Condenação de erros teológicos sobre a Trindade e a Cristologia (Três Capítulos – Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto e Ibas), assim como algumas doutrinas de Orígenes
  • Promulgou cânones e anátemas (excomunhões)

 6º - CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA III (680-681)

  • Era Papa Agatão;
  • Tratou da heresia monotelita (em Cristo haveria apenas uma vontade, a Divina)
  • Definiu que em Cristo há duas vontades, como há duas naturezas em uma só pessoa.

 7º - CONCÍLIO DE NICÉIA II (787)

  • Era Papa Adriano I;
  • Condenação da heresia iconoclasta (não se podem absolutamente fazer imagens de Deus, de Jesus e dos santos)
  • Definiu que é legítimo fazer ícones e sagradas imagens para o culto e a devoção.

 8º - CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA IV (869-870)

  • Era Papa Adriano II;
  • Tratou do cisma do Patriarca Fócio e seus seguidores
  • Condenou Fócio, confirmou o culto das imagens e afirmou o primado do Bispo de Roma.
  • Não é reconhecido como Concílio Ecumênico pelas Igrejas Orientais

 

Os Concílios “Papais”

 

  • Concílios do Ocidente, reunidos pelo Papa.
  • Concílios da Idade Média.
  • São eles:
    • Concílio Lateranense I (1123)
    • Concílio Lateranense II (1139)
    • Concílio Lateranense III (1179)
    • Concílio Lateranense IV (1215)
    • Concílio de Lyon I (1245)
    • Concílio de Lyon II (1274)
    • Concílio de Vienne (1311-1312)

9º - CONCÍLIO LATERANENSE I (1123)

  • Convocado pelo Papa Calixto II em Roma, junto à Basílica de São João no Latrão;
  • Tratou da questão das investiduras (os reis e imperadores nomeavam os bispos e os empossavam na função) e da venda das coisas sagradas (simonia) e questões disciplinares sobre os clérigos;
  • Afirmou o direito da Igreja de nomear, sagrar e dar posse aos seus bispos; proibiu a simonia; reforçou a lei do celibato dos clérigos.

 10º - CONCÍLIO LATERANENSE II (1139)

  • Papa Inocêncio II;
  • Convocado para resolver a questão surgida com a eleição de dois papas: Inocêncio II e Anacleto;
  • O concílio declarou Anacleto um antipapa e o condenou, juntamente com seus seguidores;
  • Publicou cânones sobre a disciplina do clero e condenou Arnaldo de Bréscia ao silêncio.

11º - CONCÍLIO LATERANENSE III (1179)

  • Papa Alexandre III;
  • Reuniu cerca de 300 bispos;
  • Contra a seita dos cátaros (os “puros”);
  • Determinou normas sobre a eleição do papa (maioria de dois terços), aprovou algumas decisões dos pontífices anteriores, condenou os cátaros.

 12º - CONCÍLIO LATERANENSE IV (1215)

  • Papa Inocêncio III;
  • Contra as heresias albigense, valdense e milenarista;
  • Definições dogmáticas sobre a Trindade, a Criação, Cristo Redentor, os sacramentos;
  • Condenou o abade Joaquim de Fiori, os albigenses e os valdenses e aprovou várias normas sobre a vida cristã e os sacramentos (confissão e comunhão anuais, por exemplo).

 13º - CONCÍLIO DE LYON I (1245)

  • Papa Inocêncio IV;
  • Questões: conflitos com o imperador Frederico II, a Terra Santa, o cisma oriental, ameaças estrangeiras, decadência moral
  • Decisões: condenação de Frederico II, afirmação do poder absoluto do papa, ajuda ao Império Latino de Constantinopla, apelo a uma cruzada.

 14º - CONCÍLIO DE LYON II (1274)

  • Papa Gregório X;
  • União com os gregos
  • Convocados Santo Tomás de Aquino e São Boaventura
  • Tentativa de resolver questões teológicas com os orientais (o Espírito Santo procede do Pai e do Filho), questões escatológicas (destino das almas depois da morte), sacramentais (sete sacramentos) e sobre o primado do Papa.

 15º - CONCÍLIO DE VIENNE (1311-1312)

  • Papa Clemente V;
  • Contra a Ordem dos Templários e as heresias dos begardos e de Pedro Olivi;
  • Aboliu os Templários, condenou os erros dos begardos sobre espiritualidade e os de Pedro Ulivi sobre a alma.

 

Os Concílios Tardo-Medievais e modernos

  • Concílios de um período de crise do Papado (conciliarismo, Cisma do Ocidente, degradação moral, Reforma Protestante) e de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna.
  • São eles:
    • Concílio de Constança (1414-1418)
    • Concílio de Basiléia-Ferrara-Florença (1431; 1438-1445)
    • Concílio Lateranense V (1512-1517)
    • Concílio de Trento (1545-1563)

 16º - CONCÍLIO DE CONSTANÇA(1414-1418)

  • Papa Martinho V (eleito durante o Concílio);
  • Pôs fim ao Cisma do Ocidente (três “papas”: João XXIII, Gregório XII e Bento XIII), condenou John Wyclif (sacramentos e constituição da Igreja), Jan Hus (a Igreja invisível dos predestinados) e Jerônimo de Praga.

 17º - CONCÍLIO DE BASILÉIA-FERRARA-FLORENÇA (1431; 1438-1445)

  • Papa Eugênio IV;
  • Foi um concílio de união com os orientais;
  • Fez declarações sobre a processão do Espírito Santo, a Eucaristia e a escatologia (para os gregos); sobre os sacramentos (para os armênios); sobre a Trindade e a Encarnação (para os jacobitas).

 18º - CONCÍLIO LATERANENSE V(1512-1517)

  • Papas Júlio II e Leão X;
  • Concílio para condenar o neo-aristotelismo e para opor-se a um concílio ilegítimo convocado pelo Rei da França em Pisa
  • Criação do Index librorum, condenação do neo-aristotelismo (a razão não é independente da Fé; a alma humana é individual e não coletiva); faz a reforma da Cúria e da eleição do papa; determina algumas normas para os fiéis.

 19º - CONCÍLIO DE TRENTO (1545-1563)

  • Papas Paulo III, Júlio III e Pio IV;
  • Contra a heresia protestante de Lutero e outros reformadores;
  • Defesa da Sagrada Escritura e Tradição; doutrina sobre o pecado original, a justificação, a graça, os sacramentos e a missa, o culto das imagens, a Eucaristia, o purgatório, as indulgências, etc. e condenação dos erros de Lutero.

 

Os Concílios Contemporâneos

  • Concílios sem interferência dos governos (período posterior aos conflitos com os Estados);
  • Crise da modernidade: iluminismo, liberalismo, ateísmo, comunismo.
  • São eles:
    • Concílio Vaticano I (1869-1870)
    • Concílio Vaticano II (1962-1965)

 20º - CONCÍLIO VATICANO I (1869-1870)

  • Papa Pio IX;
  • Conflito com o racionalismo;
  • Definições sobre Deus Criador, a revelação divina, a relação Fé-Razão, sobre a Igreja, sobre o primado e a infalibilidade do Papa. Ficou incompleto.

 21º - CONCÍLIO VATICANO II (1962-1965)

  • Papas João XXIII e Paulo VI;
  • Reflexão sobre a Igreja sobre si mesma e suas relações com o mundo;
  • Maior concílio da história da Igreja
  • Concílio Pastoral.